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Janela de Tolerância

Quando inicialmente confrontados com o perigo, os mamíferos, entre eles incluídos os seres humanos, ativam o Sistema Nervoso Autônomo.

Crédito: https://www.anatomiadocorpo.com/sistema-nervoso/autonomo-simpatico-parassimpatio/

Uma vez confirmado que há perigo real, algumas respostas se tornam disponíveis:

  1. fuga, se possível;
  2. luta, quando não é possível fugir;
  3. congelamento, quando não é possível fugir nem lutar.

Segundo Jaak Panksepp, a resposta de fuga está associada à ativação dos nossos circuitos de medo, enquanto a resposta de luta está associada à ativação dos nossos circuitos de raiva.

A resposta de congelamento tende a acontecer em situações percebidas como extremas e ameaçadoras à vida. Quando ocorre, o corpo entra em imobilidade tônica, um estado natural de paralisia: o coração passa a bater mais lentamente, a respiração fica quase imperceptível e a pressão sanguínea cai.

Em seres humanos, a resposta de congelamento pode levar:

  • ao desmaio;
  • ou à dissociação – você se sente “desligado” de si mesmo, de suas emoções, de sua mente ou corpo, ou do mundo ao seu redor, como se fosse um observador passivo ou vivesse num sonho.

Daniel Siegel sugere que o bem-estar psicológico em seres humanos é alcançado por meio da integração emocional. Quando vivenciamos estados de angústia – por exemplo, ansiedade ou medo –, nós não experienciamos esse sentimento interno de integração – ou senso de coerência interna.

Neste sentido, o bem-estar humano pode ser visto em termos da extensão em que somos capazes de viver nossas vidas dentro de limites fisiológicos razoáveis. O espaço entre esses limites seria uma zona de excitação ótima dentro da qual as emoções podem ser experienciadas e processadas de forma eficaz.

Esta zona de excitação ótima é o que chamamos de janela de tolerância.

Estados recorrentes de hiperexcitação ou hipoexcitação, que ficam para além dos limites da janela de tolerância, impactam nossos sistemas corporais, podendo resultar em problemas de saúde.

A janela de tolerância, que varia de pessoa para pessoa, pode ser mais estreita ou mais ampla dependendo da interação entre aquilo que herdamos ao nascer, nosso desenvolvimento e escolhas ao longo da vida.

A psicoterapia bem-sucedida frequentemente ajuda o cliente a expandir sua janela de tolerância afetiva, tornando-o mais capaz de lidar com suas emoções de maneira saudável.

Ricardo Teixeira, ao falar sobre padrões de resposta ao perigo, escreve que nos hiper-responsivos (hiperexcitados/hiperativados):

  • O medo pode gerar ansiedade, aflições, obsessões, histeria, descontrole emocional e pânico.
  • Há uma forte tendência a hiperexcitar o imaginário e deixar-se levar por especulações em lugar dos fatos.
  • Há uma tendência a demorar a encontrar respostas tranquilizadoras, pois estão perdidos e envolvidos na criação de cenários catastróficos.

Nos hiporresponsivos (hipoexcitados/hipoativados):

  • A ativação do medo põe em ação mecanismos de defesa que dissociam a consciência da percepção do perigo visando preservar um senso de previsibilidade e invulnerabilidade.
  • O perigo tende a ser minimizado e as evidências que contrariam seu sistema de crenças são tratadas com descrédito.
  • As escolhas são feitas sem uma avaliação adequada das consequências, expondo-os a riscos desnecessários, mesmo quando a prudência indica outro caminho mais seguro.
  • As medidas de segurança diante do perigo são retardadas, pois temem perder sua estabilidade emocional.

Já os responsivos:

  • Toleram o medo quando este vem para alertar sobre a necessidade de reorientação e reposicionamento.
  • Experimentam as emoções negativas sem “perder a cabeça”.
  • Porque suas defesas não são neuróticas [desadaptativas], eles conseguem adotar medidas adequadas ao grau de severidade da situação perigosa.
  • São mais resilientes e, portanto, mais capazes de enfrentar o perigo e recuperar o equilíbrio e a confiança.
  • Conseguem avaliar o problema e se colocar em marcha na direção da melhor solução possível.

Hiper-responsivos e hiporresponsivos tendem mais a buscar segurança no ambiente do que em si mesmos, enquanto os responsivos tendem a confiar mais em si mesmos sem, no entanto, desprezar a necessidade de um ambiente positivo e seguro.

Ricardo Teixeira segue dizendo que os hiper-responsivos precisam aprender a desenvolver tolerância ao medo e às emoções concomitantes e a não se deixar governar pelo imaginário catastrófico, enquanto os hiporresponsivos precisam aprender/desenvolver recursos para encarar o perigo sem se deixar devastar-se emocionalmente.

Em tempos difíceis e desafiadores, como o que estamos vivendo atualmente, é importante permanecer dentro de nossa janela de tolerância se quisermos ultrapassar essa tormenta sem perder a saúde (física e mental) e a capacidade de sermos empáticos e solidários.

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20 comentários em “Janela de Tolerância”

  1. Muito bom o texto! Me ajudou para compreender melhor o tema!
    Gostaria, se possível, indicação de leituras dos autores citados no texto 🙂

    1. Olá, Lívia.

      Daniel Siegel aborda o conceito de janela de tolerância no livro “Mindsight: The New Science of Personal Transformation”. Que eu saiba, não há tradução em português. Mas se você pesquisar na Amazon, encontrará outros livros dele traduzidos.

      Outro autor mencionado no texto é Jaak Panksepp, falecido em 2017. Infelizmente, não há livros dele traduzidos em português.

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